Pedro Barroso na primeira pessoa

“Componho mais ao piano, mas tenho um caso de amor muito grande com o primeiro instrumento que tive, que é a viola. De certo modo, é toda a idiossincrasia da nossa criatividade como autores, os da geração do Zip-Zip.”

“Em cima de um palco, eu estou a comunicar emoções.”

“A que é que nos podemos agarrar hoje? O que é que sobrou? Nós em 2016 perdemos referências extraordinárias, como o Leonard Cohen, por exemplo. As pessoas estão desiludidas, temos na Europa coisas impensáveis há meia dúzia de anos como o ‘Brexit’; temos os sujeitos da Turquia e da Hungria, que são déspotas perigosíssimos; temos na América a eleição de um clown, depois da surpresa lindíssima de termos na Casa Branca um homem de inteligência, cultura e sensibilidade; temos a França, que pode vir a eleger sabe-se lá quem…”

“Para alterar alguma coisa na sociedade é muitíssimo importante a criação. O autor desempenha um papel enorme na criação de novos arquétipos e o caminho tem de ser por aí, pela inteligência e pelo conhecimento. Isso é uma coisa que se vai aprendendo com a idade. Quando se começa a cantar, no fundo quer-se palmas, viagens, aeroportos, sucesso imediato, etc. E depois começa a perceber-se que esse é o caminho por onde não se deve ir. Eu sempre me sintonizei muito com a diferença e com estas pessoas que vêm assistir a espectáculos, de onde quer que seja.”

”…temos de apelar à capacidade de sopesar o sonho e a sua concretização, em diferentes pratos da balança, para conseguirmos equilibrar tudo isto e manter a Europa dos valores. Eu não quero legar aos meus filhos e netos uma pátria sem sentido, uma humanidade sem horizontes.”

“Tive letras cortadas, canções proibidas, tive o disco mais celeremente apreendido em Portugal. Eu, o António Macedo e o José Jorge Letria gravámos uma coisa onde se dizia muitas vezes ‘soltem os encarcerados’ [no disco da peça Breve Sumário da História de Deus, de Gil Vicente], aquilo passou na rádio porque era etiqueta Zip, mas dez minutos depois o disco foi apreendido (os estúdios da Rádio Renascença eram mesmo ao lado do Governo Civil, o que até deu jeito) e nunca mais tocou.”

“Para alterar alguma coisa na sociedade é muitíssimo importante a criação. O autor desempenha um papel enorme na criação de novos arquétipos e o caminho tem de ser por aí, pela inteligência e pelo conhecimento. Isso é uma coisa que se vai aprendendo com a idade.”

“Não frequentei os sítios que era preciso e dava jeito para ser frívolo, colunável e bajulado diariamente no medíocre social de referencia. Mas é bom, ao mesmo tempo, estar aqui de cabeça erguida, 50 anos de ideias música e palavras convividas. (…) A minha vida foi um privilégio. Uma festa compartilhada”.

“Sim. Corto a ‘jaqueta de forcado’ amanhã [dia 21], no velho Teatro Virgínia, pelas 21:30 – com testemunho de 600 cúmplices [espectadores]; e quero dizer com isto, que cesso atividade como músico, não me retirando obviamente, nem como homem das ideias, nem das artes, nem das palavras. E da diferença. Não abandono a intervenção crítica, nem a cidadania, pelo menos enquanto o último neurónio mo permitir”.

Um single e três canções:
– Trova-dor, em «Trova-dor», EP de 1970;
Canção urgente / Pastilhas reacção, single de 1975;
– O capital tem mil caras, em «Lutas velhas, canto novo», LP de 1976;
Canção para a unidade, em «Água mole em pedra dura», LP de 1978.

Jose AbreuPedro Barroso na primeira pessoa